O preconceito anticatólico no mundo acadêmico
O caso do bispo argentino fotografado há poucas semanas em circunstâncias escandalosas, impróprias a sua condição, ocupou páginas inteiras de alguns jornais, que aproveitaram a ocasião para criticar a Igreja Católica pela manutenção do celibato eclesiástico. Seu imediato pedido de renúncia, obviamente determinado pelo Vaticano, não mereceu o mesmo estardalhaço publicitário.
À Esquerda: Bispo Argentino flagrado - Desculpa não cola e é afastado pela Hierarquia da Igreja
Na ocasião, acabava de ser eleito Papa Leão XIII, que mandou dizer a Pastor que os arquivos do Vaticano estavam inteiramente abertos para ele. No início, Pastor não acreditou, mas viajou para Roma e ali encontrou, realmente, todas as facilidades em seu trabalho de pesquisa. Nada lhe foi negado, nada lhe foi escondido. Ele passou anos trabalhando e produziu uma obra monumental, em 40 volumes, com a história dos Papas desde a Renascença até o final do século XVIII. Nessa obra, registrou todos os horrores (e foram realmente horrores, é inegável) de Papas renascentistas.
Armando Alexandre dos Santos,
jornalista e diretor da Revista da Academia Piracicabana de Letras
Criticar a Igreja é moda, em muitos ambientes. O preconceito anticatólico é o único preconceito admitido e até estimulado no mundo acadêmico, segundo afirma Thomas E. Woods Jr., professor norte-americano, na abertura do seu notável livro “Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental” (Editora Quadrante, São Paulo, 2008).
É óbvio que, infelizmente, inúmeros eclesiásticos dos vários níveis, até os mais elevados, não cumprem, como deveriam, suas obrigações. Há muita coisa na sua conduta que deveria ser diferente, para que os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo fossem seguidos. Esse é o lado humano, frágil, doente, da Igreja Católica. É a face terrível da instituição. Por mais que sejamos católicos, não podemos fechar os olhos diante dessa realidade.
Mas também jamais devemos esquecer o outro lado: a Igreja é de instituição divina e, enquanto tal, por cima das misérias humanas tem uma outra face, pura, santa, imaculada. E mesmo nas piores horas, mesmo nos momentos de crise mais intensa, como o atual, essa face se manifesta magnificamente.
Ainda recentemente recebi, por e-mail, um espetáculo de Power Point lindíssimo, sobre tratamento de aids no mundo inteiro. A única instituição internacional que desenvolve em todo o mundo um trabalho sério, eficiente e dignificante para ajudar os aidéticos é a Igreja Católica. Inúmeros estabelecimentos católicos funcionam em todo o globo (e especialmente na África, continente mais atingido pela epidemia) para auxiliar, material e espiritualmente, os aidéticos. São estabelecimentos discretos, humildes, que não chamam a atenção sobre si, mas atuam eficazmente.
Existem milhares e milhares de ONGs coletando dinheiro e fazendo demagogia a propósito da aids, e aproveitando para criticar a Igreja porque combate, por razões morais, o uso da camisinha, mas na prática, quem trabalha mesmo, em favor dos aidéticos, é a Igreja... Esse “outro lado” da questão, a justiça manda não omitir.
De fato, a Igreja tem um lado divino e um lado humano. O lado divino é, insisto, puro, santo, imaculado. Sem ele seria impossível uma instituição tão contrária a todos os valores que o mundo habitualmente preza, cultua e até idolatra, sobreviver durante 2 mil anos. Como escreveu um autor francês do século XIX, “l´Eglise est une enclume qui a usé bien de marteaux” (a Igreja é uma bigorna que já gastou muitos martelos). Eles bateram, bateram, bateram, gastaram-se... e a Igreja continua de pé. Voltaire previa o fim da Igreja para o final do século XVIII... Como estava enganado!
Historiador alemão Ludwig von Pastor (1854-1928) |
Mas há também o lado humano, no qual há miséria, há podridão, há crimes. Não podemos fechar os olhos para essa realidade, como também não podemos esquecer o lado divino.
Creio que o que exprime bem essa dicotomia, essa aparente contradição entre o divino e o humano na instituição da Igreja Católica, é o episódio ocorrido com o historiador alemão Ludwig von Pastor (1854-1928). Ele era protestante e, certa ocasião, desafiou publicamente a Igreja Católica a abrir os seus arquivos secretos. Tinha certeza, afirmava, de que eles jamais seriam eles abertos, para não serem revelados horrores tremendos...
Creio que o que exprime bem essa dicotomia, essa aparente contradição entre o divino e o humano na instituição da Igreja Católica, é o episódio ocorrido com o historiador alemão Ludwig von Pastor (1854-1928). Ele era protestante e, certa ocasião, desafiou publicamente a Igreja Católica a abrir os seus arquivos secretos. Tinha certeza, afirmava, de que eles jamais seriam eles abertos, para não serem revelados horrores tremendos...
Na ocasião, acabava de ser eleito Papa Leão XIII, que mandou dizer a Pastor que os arquivos do Vaticano estavam inteiramente abertos para ele. No início, Pastor não acreditou, mas viajou para Roma e ali encontrou, realmente, todas as facilidades em seu trabalho de pesquisa. Nada lhe foi negado, nada lhe foi escondido. Ele passou anos trabalhando e produziu uma obra monumental, em 40 volumes, com a história dos Papas desde a Renascença até o final do século XVIII. Nessa obra, registrou todos os horrores (e foram realmente horrores, é inegável) de Papas renascentistas.
A certa altura da sua pesquisa, solicitou e obteve uma audiência com Leão XIII. Apresentou-se ao Papa, agradeceu as facilidades que obtivera na pesquisa e, para grande surpresa de Leão XIII, declarou que desejava tornar-se católico.
O Papa, muito espantado, respondeu:
- Mas, Professor, antes de conhecer por dentro os horrores praticados por antecessores meus, o Sr. era contra a Igreja Católica, e agora, que conhece tudo documentadamente, quer ser católico? Não estou compreendendo sua atitude.
A resposta de Ludwig von Pastor foi muito interessante:
- Santidade, eu me convenci de que a Igreja Católica é realmente uma instituição divina. Se nem Papas conseguiram destruí-la, é porque é divina mesmo!
jornalista e diretor da Revista da Academia Piracicabana de Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário